Num ano em que, no meu cérebro, os "melhores filmes" parecem estar todos a deixar um bocadinho a desejar, Room chegou e conquistou o clássico lugar "não estava nada à espera, mas adorei".
Brie Larson e o miúdo tomam conta do filme e prendem-nos a momentos de ternura, esperança, tristeza imensa e nervosismo, tudo filmado de forma subtil, sem qualquer sensação de invasão de privacidade (tendo em conta os reduzidos metros quadrados).
Estive sempre de olhos e atenção colados ao ecrã e cheguei mesmo a viver um momento de ligeria taquicárdia. Fiquei imensamente satisfeita pela variedade de momentos que o filme mostra (esperava mais monotonia, confesso).
Às vezes acontece-me gostar tanto de um filme que tenho medo de não conseguir dizer todas as coisas "certas" sobre ele. Rascunho críticas, mas não consigo chegar àquele ponto de sentir que disse exatamente tudo o que pensei sobre aquele filme e sobre o que ele me fez pensar.
Em 2015, aconteceu com o Anomalisa e o Inside Out. Em 2016, acabam-se as mariquices.
INSIDE OUT
O obrigatório disclaimer: quem tem o privilégio de me conhecer, saberá que torço sempre o nariz quando me tentam convencer a ver filmes de animação. Não o faço por arrogância ou ignorância, simplesmente porque vi vários (já em idade adulta) e raramente me senti envolvida. Ainda assim, fui ver o Inside Out, pelo conceito aparentemente aliciante e por bons amigos terem dito "mesmo tu, vais gostar". Quem sou eu para não seguir conselhos de gente claramente boa (pelo menos a escolher os seus amigos)?
A história é original e é exposta de forma muito inteligente (fiquei a pensar que as crianças pequenas não verão exatamente o mesmo filme que os adultos). Retrata bem a dificuldade que (por vezes) é existir, independemente da idade ou do estado de maturidade da pessoa.
Foi a forma mais inteligente que vi até hoje de apresentar a multiplicidade de seres que nos "sentimos ser" ao longo da vida.
Gostei muito.
8/10
ANOMALISA
Algo escrito pelo Charlie Kaufman tem logo de raíz a premissa necessária para eu estar na sala, sentada ansiosamente antes dos anúncios começarem: é escrito pelo Charlie Kaufman. Basta lembrar-me do quanto adoro o Adaptation e de quão imensamente intenso achei o Synecdoche, New York.
Por ser um filme de animação, Anomalisa ganha a liberdade necessária para ser realista de uma forma que dificilmente um filme live-action conseguiria ser. Pequenos gestos e sons da vivência humana, habitualmente abafados pelo pudor do 'não podemos mostrar coisas não-sexy', são constantes neste filme e tornam-no incrivelmente real.
A história, mesmo não estando no máximo da escala de Retorcimento Kaufmaniano (para mim, não peca por isso), expressa de forma deliciosamente metafórica a procura tão tipicamente humana (e geralmente infrutífera) do perfeito, do diferente, do que sabe a novo.
INTENSO é a palavra que me vem à cabeça quando penso neste filme (e já passou uma semana desde que o vi). Não pensem pelo título do post que o filme não tem história. Tem, é excelente e é maravilhoso ver como tudo se desenrola apenas e somente (duas palavras diferentes para dizer exatamente o mesmo, para que percebam que é mesmo sóisto) em torno de 2 egos monumentais e uma bateria.
J. K. Simmons assombra este filme e sets the bar para um Miles Teller que, à medida que os minutos vão passando, nos mostra que é fresco, mas que também veio para ficar (e que faz mais do que 'Project X's - filme a ver - e 'Divergent's).
Impossível terminar sem mencionar a espetacularidade da última cena do filme (Oscar para Melhor Montagem, por favor) que levará qualquer ser humano amorfo a sentir vida e emoção gritantes nas suas veias tranquilas.
Bom cinema, pá!
9/10
(adorei, mas no meu coração o Birdman está ainda um bocadinho acima)
Provavelmente a estrela de 2014, because Hollywood loves a good comeback (e de ver o Ed Norton in his underwear).
Birdman será potencialmente um daqueles filmes intensos que tipicamente não cai bem no estômago de todos. É aquele sabor a fígado que uns acham divinal, mas que a outros causa arrepios de dissabor.
Para mim, Birdman tem bastante mérito por todo o conjunto que nos apresenta: uma história bem desenhada, com diálogos intensos (quase monólogos) e com performances de deixar cair o queixo, em particular do Edward Norton e do Michael Keaton (por esta ordem - não esqueçamos, por favor, que o Ed foi a minha primeira movie crush, circa 1999, ano do glorioso Fight Club) tudo envolvido numa música de inquietude e em planos de sequência que tão bem deixam transpirar a falta de auto-confiança e insegurança da personagem principal (e por vezes das restantes personagens).
Fez-me lembrar alguma da "doce angústia" que se sente a ver Adaptation. Uma experiência diferente que me impressionou e me fez sentir admiração pela visão de quem esteve por detrás da câmara.
Há malta que faz filmes que nós sabemos que vão ser bons. Há malta que faz filmes que nós sabemos mesmo que vão ser bons, mas que ainda assim nos fazem sair do cinema com um fuck yeah! na cabeça.
Adorei a tensão suave que a música trazia, adorei os momentos de narração, adorei ficar a conhecer esta história. Faz-me querer fazer filmes.
Black Swan é tudo aquilo que o trailer, as conversas, as críticas e historial de Aronofsky prometiam.
É negro e absorve TODA a atenção. É preenchido de dualidades constantes e inteligentes. É um confluir perfeito de emoção e horror. É o showcase perfeito do poder de actuação de Natalie Portman, que ascende e quase se supera quando se transforma no verdadeiro Cisne Negro.
Um mundo onde programar é tão intuitivo como respirar, as mulheres são acessórios e estar in é o desejo mais íntimo da juventude Harvadiana é aquele que nos apresenta The Social Network.
Um filme que não é tanto sobre o Facebook, como o é sobre Mark Zuckerberg.
Ironicamente (ou não?), um rapaz com fraquíssimas social skills cria a rede social de maior sucesso do mundo, pisa todos para lá chegar, sempre de consciência surpreendentemente tranquila, e mesmo assim - voilá a mestria de Fincher/Sorkin - não o conseguimos odiar. Nem só um bocadinho. We kinda like him, actually.
Jason Reitman revela-se, mais uma vez, um mestre na criação da receita perfeita:
- pegar num tema actual (e banal até),- relatá-lo eloquentemente, preenchendo-lo de testemunhos verdadeiramente sentidos,- inseri-lo no contexto social e económico mais adequado de sempre (sorte, talvez, mas who cares?),- escolher para protagonista o cada vez mais aperfeiçoado George Clooney, acompanhado por uma Ana Kendrick absolutamente assombrosa (Oscar, please),- e enrolar tudo perfeitamente num clima de verdades e realidades previsíveis, habilmente salvas pelo charme encantador do conforto que é saber que, na realidade, somos todos warm fuzzy bears e tudo o que queremos na vida é companhia e amor humano.
Este filme é tudo o que se pode esperar de um filme de Tarantino e ainda mais. Num (já) habitual clima de violência desenfreada sem moderação e humor macabro delish!, Tarantino apresenta uma história muito bem trabalhada, com personagens desenvolvidas e comicamente marcantes e com performances soberbas de, por exemplo, Diane Kruger e Christoph Waltz.
Não desiludirá os fãs incondicionais. Perfeitamente colocado (pelo meus companheiros de cinema) ao lado de um Kill Bill e abaixo de um Pulp Fiction.
quase-9/10
***SPOILER****PS: finalmente alguém com coragem para matar a porra do H.!!